30.4.06

VOCAÇÃO



"...Sair da mediocridade já seria um passo razoavelmente válido para todos. Às vezes, sem eu esperar, vêm à tona dores profundas do fundo do meu sentir,mas que parece que me precedem. Quando começaram? Na idade da pedra? Quando o homem andou pela primeira vez em duas pernas? Quando não pôde mais à vontade se coçar livre como o macaco? Dói, aqui dentro e essa dor não é bem só minha. Qual o remédio? Tem? Mas como dói isso, esse negócio. O que é isso? Dor de existir! Ninguém falou que doeria. Eu queria só mais um dia para entender essa dor. Mas é um presente estar aqui. Primeiro porque a gente se apega. Ah, a gente se apega à vida. O negócio foi bem entrelaçado, meu. Depois que a gente nasce, ó, não tem mais, tá tudo interligado. O que se faz interfere no outro. Existe uma saída? E quem quer saída? Eu quero é entrada. Onde fica a entrada deste gozo?... Agora sim. Entendi. Sem ser deus de alguma coisa você não entra em lugar nenhum. É credencial para os clubes dos prazeres. Vocação. Chamado. Deixar o espaço aberto para ela aparecer e exercitá-la em tempo integral. Mas tem outra vocação, a que vem antes da vocação que envolve um fazer. É amar tudo isso. Mas essa, se não tivéssemos, não estaríamos aqui...Nascemos amados e amando. Nunca se pára. Este é o nome de nossa salvação. O reconhecimento e exercício da vocação é prêmio. Bônus. Que se ganha e se paga, ao mesmo tempo. Ou: se paga e se ganha. Não interessa. Não interessa mesmo. Os outros. Só por causa dos outros eu fico me analisando. Para poder entrar em contato com outros...Então agradeço o papel, o lápis e a memória que me permitirá repetí-las(as frases), fazendo uma ponte qualquer, porém garantia que faremos contato, imprescidível para que eu exista, pois, se você não me olhar, como posso me ver?..."
"Calendário da Pedra"

(Denise Stoklos)

Um comentário:

Fausta Paixão disse...

saudações de Portugal. e abraços ...